Fatores de Risco Posturais no Trabalho
Um fator de risco pode ser definido operacionalmente como um termo genérico para os fatores de trabalho que possuem associação com a ocorrência das Lesões por Esforços Repetitivos ou Doenças Relacionadas ao trabalho (LER/DORT). Segundo Hagberg et all (2001), eles podem influenciar direta ou indiretamente o surgimento e/ou desenvolvimento das LER/DORT. Sendo assim, se estão diretamente relacionados aos processos fisiopatológicos, podem disparar este processo ou criar condições apropriadas para o surgimento destes distúrbios.
São divididos em três categorias:
- Os fatores ligados às condições de trabalho como forças, posturas, ângulos, repetitividade, mobília, ferramentas
- Os fatores organizacionais: organização da empresa, clima social, relações
- Os fatores individuais: capacidade funcional, habilidade, enfermidades
- Ao manusear qualquer dispositivo eletrônico, mantenha sempre a coluna ereta.
Com relação à postura, no seu sentido mais restrito pode ser entendida como a atitude ereta e bem balanceada do indivíduo em posição natural. A postura para o contexto da biomecânica está mais relacionada a posição do corpo ou de um determinado seguimento seja este realizando alguma atividade (ação da musculatura dinâmica e em menor proporção a estática) ou não (ação maior da musculatura estática). Moffat e Vickery (2002); (KONZ, 1999). Esta última, encontra-se intimamente ligada às queixas dolorosas do sistema músculo-esquelético.
Grandjean (2005) correlacionou em suas pesquisas, o trabalho estático em diferentes posturas com as queixas corporais dos trabalhadores, descritas na tabela abaixo:
Postura no trabalho | Queixas e consequências possíveis |
---|---|
De pé no lugar | Pés e pernas, varizes |
Postura sentada, sem apoio nas costas | Músculos extensores das costas |
Assento demasiadamente alto | Joelhos, pernas e pés |
Assento demasiadamente baixo | Ombros e nuca |
Postura tronco inclinado, sentado ou em pé | Região lombar, degeneração discos intervertebrais |
Braços estendidos para frente, para os lados e para cima. | Ombros e braço, eventualmente artrose dos ombros |
Cabeça curvada demasiadamente para frente ou para trás | Coluna cervical e degeneração discal e intervertebrais |
Postura da mão forçada em comando ou ferramentas | Antebraço, eventualmente inflamações das bainhas dos tendões |
Conforme descrito na literatura, numa postura sentada as recomendações posturais são: que os dois pés fiquem apoiados no chão ou plataforma, tronco reto, a cabeça erguida olhando para frente e as costas apoiadas no espaldar da cadeira. A cadeira deve permitir que o peso do corpo incida mais sobre a tuberosidade isquiática (saliência óssea posterior entre a coxa e as nádegas; proeminência óssea posterior da bacia; local de origem dos músculos posteriores da coxa); sem grande sobrecarga da parte posterior da coxa; permitir o retorno sanguíneo das pernas; não empurrar o sacro e cóccix (extremidade inferior da coluna, na bacia) para frente; não propulsionar o indivíduo para frente nem para trás; deve permitir o apoio adequado do dorso; juntamente com os braços da cadeira, permitir movimentos laterais; os cotovelos devem estar na altura da bancada; a cadeira em conjunto com a bancada não deve limitar movimentos dos membros superiores.
Grande parte das dores referidas, na coluna cervical e costas, estão relacionadas frequentemente à altura das mesas, que se encontram mais altas, principalmente em trabalhos de digitação. Essas mesas altas, elevam os braços e ombros, sobrecarregando os músculos da coluna cervical, levando ao surgimento de estados doloroso da região.
Para a execução das atividades laborais, sentada ou em pé, Etienne Grandjean (2005), orienta que as superfícies superiores das mesas de trabalho, estejam 5 à 10 cm abaixo do cotovelo.
Nesta postura, haverá menor carga da musculatura estática das cadeias musculares inspiratórias e de ombro minimizando as compensações e consequentemente os riscos de lesões osteomusculares. De forma contrária, uma mesa alta gera atividade muscular compensatória dos músculos elevadores e abdutores (músculos que afastam os cotovelos lateralmente da linha média do tronco) da cintura escapular (complexo músculo esquelético da articulação dos ombros e coluna cervical), levando ao surgimento de dores e disfunções músculo-esqueléticas.
Outra medida a ser considerada é a distância entre o assento e a mesa. Uma inclinação anterior do tronco, com cotovelos e ombros em desajuste ergonômico, acarretará sobrecarga das estruturas citados anteriormente acrescidos de uma hiperatividade dos músculos extensores da coluna, principalmente a lombar baixa, gerando desconforto e risco de lesões nessa região. “Para possibilitar uma posição confortável com menor carga estática, a distância entre o assento e a mesa deve estar entre 27 à 30 cm, conforme as características antropométricas individuais. A posição relaxada do tronco é prioridade.” Grandjean (2005).Do ponto de vista biomecânico e fisiológico, é altamente recomendável um local de trabalho que alterne a postura sentada e em pé. A postura sentada, por tempo prolongado minimiza a carga da musculatura estática do corpo, porém proporciona maior carga mecânica nos discos intervertebrais da coluna. De outro modo, a postura estática em pé, por tempo prolongado, gera comprometimento com disfunção do sistema vascular e muscular de pernas e pés, sendo aliviado quando alternado com a postura sentada. Por esses motivos, as alternâncias de postura sentada e em pé, são recomendadas para proteção do sistema músculo- esquelético e vascular proporcionando menores incidências dos fatores de riscos à LER/DORT.
Portanto, para a configuração dos locais de trabalho, a escolha correta da altura e tipo do mobiliário é de suma importância. Todavia, não se pode analisar esse dado isoladamente. Pois o conjunto cadeira, mesa e plataforma, devem ser harmoniosamente planejados com vistas às tarefas executadas e as características antropométricas dos usuários, proporcionando uma postura com a menor fadiga muscular possível.
Referência Bibliografia